17/11/2017

Sois Deuses

A Criação de Adão, afresco de
Michelangelo no teto da Capela Sistina 
Algumas expressões ouvidas e ditas aqui e ali, em fontes diversas, vão se constituindo como aqueles velhos enigmas que se construíram ao longo da história da humanidade. Não digo que alimente qualquer tipo de expectativa como se fosse vencer as limitações e adquirisse o direito de sair pelo mundo afora, como faziam os velhos filósofos, a semeando verdades e revelando segredos que alguém sabiamente escondeu atrás de intrincadas fórmulas e leis só conhecidas por grandes sábios ou por iniciados secretamente nas artes do conhecimento. É bem verdade que não chego a perder o sono. Mas, não dá para negar que, às vezes, uma ideia fica por dias, por meses e até por anos em algum lugar esperando a hora de que alguma conclusão apareça.
Uma dessas afirmações é a de que somos todos deuses em potencial. Durante muito tempo, minha visão não permitiu que essa afirmação fosse admitida como possível. Como assim, todos nós somos deuses em potencial? Os humanos carregam na sua história tanta maldade, tanta crueldade, como conceber que essa gente que mata gratuitamente seus semelhantes, que elimina nações inteiras, que prejudica conscientemente a população para acumular riqueza, que arranha, morde, amassa e oprime, possa carregar algo de divino dentro de seus peitos?
A lógica remete a um rotundo (como diria aquele político do passado Leonel Brizola), um rotundo não. Não é possível. Não é admissível. Não é verdade. Porém, o tempo passa. As ideias vão se renovando. As convicções também vão se modificando.
É certo que a tendência humana é privilegiar o negativo.  Senão vejamos: os noticiários da tevê apresentam 40 notícias. Dessas, quantas são baseadas em aspectos positivos? Talvez uma ou duas, dadas antes do apresentador dar seu boa-noite final. Muitas das vezes a pauta ficar rondando a desgraça: tantos mortos no furacão, algum louco abriu fogo contra a multidão, uma bomba colocada por algum grupo extremista covarde que, em nome de algum deus, explodiu muitos corpos, trazendo medo, preocupação e raiva. Mas, ainda bem que a economia vai bem. Se o povo sofre é mero detalhe. Este pequeno detalhe, aliás, deve ser omitido porque já há desgraça demais e o povo deve saber que a economia vai bem. Ou seja, alguém vai bem neste universo de desencanto. Que seja a economia.
É claro que notícias ruins há aos milhões. E rodam o mundo em segundos trafegando silenciosamente pelas redes virtuais. Mas, e só isso que acontece no mundo?  A impressão que tem é que a vida se resume a isso.
Pois bem: este é um mundo possível. Há outros tantos possíveis. Os pensadores, dos mais antigos aos mais atuais, comprometidos em descobrir as razões da existência humana, são unânimes no entendimento de que a vida não se esgota numa passagem única por aqui. É claro que os materialistas vão dizer que isso é uma bobagem, que a ciência não demonstrou cabalmente essa realidade e que, assim sendo, tudo o que se fala é mera especulação. Tudo é produto da mente. E tem alguma razão nisso. Pelo menos no quesito produto da mente.
Só que a mente é um desses enigmas insolúveis, pelo menos até agora. Já se achou que a mente é o próprio cérebro. Porém, o cérebro é um órgão físico. Não é a sede do pensamento. O pensamento gera realidades, é outra verdade. E essas realidades são distintas para cada indivíduo. Identifico aí a possibilidade de que todos são deuses em potencial. Afinal, todos podem gerar suas realidades. E a característica principal da divindade é a criação.
Para muitos, isso tudo é um aglomerado de coisas sem sentido. Outros, no entanto, entendem que mais do que uma possibilidade isso é uma realidade.  E todos têm razão. A sua razão.

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