05/07/2017

Conhecer a si mesmo

No mundo da filosofia há milhões de ideias, milhões de fórmulas e de receitas. Há remédio para tudo. Porém, entre todos os pensamentos, talvez o mais simples deles seja, também, o mais complexo.  Apesar de altamente conhecido, não há certeza sobre quem o pronunciou. Para muitos foi Tales de Mileto. Para outros tantos foi Sócrates, Heráclito ou Pitágoras. O aforismo grego “conhece-te a ti mesmo” é um desses pensamentos que se adaptam a inúmeras situações da vida e pode servir de passaporte para viagens intermináveis na busca pelo aperfeiçoamento do indivíduo.
Inscrita na entrada do templo de Delfos, construído em honra a Apolo, o deus grego do sol, da beleza de da harmonia, a frase aparece em inúmeras manifestações religiosas no sentindo de incentivar o mergulho interno do indivíduo.
Na verdade, o pensamento está fracionado. A frase completa é “conhece-te a ti mesmo e conhecerás os deuses e o universo”. Como foi amplamente difundida e debatida, surgiram milhares de interpretações. A de maior aceitação é aquela que aponta à necessidade inadiável dos seres humanos de viajar até o seu interior, visitar suas próprias entranhas e conhecer a sua luz e a sua escuridão visando o autoconhecimento. Este seria o princípio do processo de desenvolvimento do ser.
Acredita-se que conhecer a si mesmo teria um efeito quase mágico sobre a pessoa. Como o processo é profundo e inesgotável, o indivíduo envolvido na sua análise não teria tempo para ficar preocupado em apontar os defeitos dos semelhantes     através de apressados julgamentos. Afinal, enquanto estivesse olhando para dentro de si, os olhos teriam ocupação suficiente e não haveria tempo para bisbilhotar as ações de outras pessoas.
E, assim, quanto mais o individuo investisse na sua busca, menor a preocupação com o julgamento sobre as fraquezas alheias, melhorando as relações do ser consigo mesmo, com as pessoas que os cercam e com o mundo. 
Na verdade, conhecer a si mesmo tende a ser uma viagem sem fim. Por ela é possível entender um pouco as relações, as emoções humanas, a ligação do indivíduo com o sagrado e a necessidade interminável de buscar o conhecimento.
Hoje, porém, a iniciativa parece ser no sentido contrário. O costume é o da comparação.  Aparência e consumo empurram o indivíduo para o outro lado. É necessário fazer o que todos fazem para parecer bem sucedido e compartilhar esse sucesso no mundo virtual. E, assim, vai se perdendo tempo com ações que afastam o ser de seu centro e o colocam por alguns segundos como exemplo a ser curtido e compartilhado.
Vale muito a imagem do sucesso. Mesmo que ela não encontre correspondência na verdade. Sócrates entendia que conhecer a si mesmo traria humildade, afastando a soberba da mente humana. Quando o oráculo disse que ele, Sócrates, era o homem mais sábio do mundo, respondeu: “só sei eu que nada sei”. Falava ali uma verdade imodificável: o mundo das ideias é ilimitado. Louco é quem acha que tudo sabe!

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