No mundo da filosofia há milhões
de ideias, milhões de fórmulas e de receitas. Há remédio para tudo. Porém,
entre todos os pensamentos, talvez o mais simples deles seja, também, o mais
complexo. Apesar de altamente conhecido,
não há certeza sobre quem o pronunciou. Para muitos foi Tales de Mileto. Para
outros tantos foi Sócrates, Heráclito ou Pitágoras. O aforismo grego
“conhece-te a ti mesmo” é um desses pensamentos que se adaptam a inúmeras
situações da vida e pode servir de passaporte para viagens intermináveis na
busca pelo aperfeiçoamento do indivíduo.
Inscrita na
entrada do templo de Delfos, construído em honra a Apolo, o deus grego do sol,
da beleza de da harmonia, a frase aparece em inúmeras manifestações religiosas
no sentindo de incentivar o mergulho interno do indivíduo.
Na
verdade, o pensamento está fracionado. A frase completa é “conhece-te a ti
mesmo e conhecerás os deuses e o universo”. Como foi amplamente difundida e
debatida, surgiram milhares de interpretações. A de maior aceitação é aquela
que aponta à necessidade inadiável dos seres humanos de viajar até o seu
interior, visitar suas próprias entranhas e conhecer a sua luz e a sua
escuridão visando o autoconhecimento. Este seria o princípio do processo de
desenvolvimento do ser.
Acredita-se
que conhecer a si mesmo teria um efeito quase mágico sobre a pessoa. Como o
processo é profundo e inesgotável, o indivíduo envolvido na sua análise não
teria tempo para ficar preocupado em apontar os defeitos dos semelhantes através de apressados julgamentos. Afinal,
enquanto estivesse olhando para dentro de si, os olhos teriam ocupação
suficiente e não haveria tempo para bisbilhotar as ações de outras pessoas.
E,
assim, quanto mais o individuo investisse na sua busca, menor a preocupação com
o julgamento sobre as fraquezas alheias, melhorando as relações do ser consigo
mesmo, com as pessoas que os cercam e com o mundo.
Na
verdade, conhecer a si mesmo tende a ser uma viagem sem fim. Por ela é possível
entender um pouco as relações, as emoções humanas, a ligação do indivíduo com o
sagrado e a necessidade interminável de buscar o conhecimento.
Hoje,
porém, a iniciativa parece ser no sentido contrário. O costume é o da
comparação. Aparência e consumo empurram
o indivíduo para o outro lado. É necessário fazer o que todos fazem para
parecer bem sucedido e compartilhar esse sucesso no mundo virtual. E, assim,
vai se perdendo tempo com ações que afastam o ser de seu centro e o colocam por
alguns segundos como exemplo a ser curtido e compartilhado.
Vale
muito a imagem do sucesso. Mesmo que ela não encontre correspondência na
verdade. Sócrates entendia que conhecer a si mesmo traria humildade, afastando
a soberba da mente humana. Quando o oráculo disse que ele, Sócrates, era o
homem mais sábio do mundo, respondeu: “só sei eu que nada sei”. Falava ali uma
verdade imodificável: o mundo das ideias é ilimitado. Louco é quem acha que
tudo sabe!
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