03/05/2017

O Medo e a Morte

“Eu tenho medo e já aconteceu/ 
Eu tenho medo e inda está por vir/ Morre o meu medo e isto não é segredo/ 
Eu mando buscar outro lá no Piauí”*

Um dia alguém disse que tudo isso que nos rodeia nem é real. É uma ilusão. A verdade estaria bem longe do aparente. E só a percebe quem se desprende deste cenário. Confesso que, por mais que tentasse, a mim sempre pareceu mais uma destas tantas teses loucas que saltam de livros escritos ou ditados por místicos, por gurus ou por seres que nem corpo físico possuem.
Senti certo alívio ao ver que a dificuldade não era só minha. É mesmo muito difícil crer e até mesmo admitir que o que os olhos enxergam não existe. Mas, o tempo passa e cada vez mais começo a admitir que os nossos olhos nos enganam. E o Brasil está aí, nem tão firme nem tão forte, para ajudar nesta intrincada questão.
Na semana passada houve uma greve geral. A população, que troca seu suor pela manutenção do prato em cima da mesa, que mal paga a conta da água, da luz e  do celular, não estava na manifestação. E não há mal nisso. Os pequenos empresários, que têm funcionários para pagar no final do mês, que repassam ao governo boa parte do produto de suas vendas em forma de taxas e impostos, também não estavam. E não há nenhum mal nisso. 
Considero que o momento atual é riquíssimo. E, às vezes, até hilário. Há quem tenha gastado tempo gravando vídeo em rede social levando ao mundo sua abalizada opinião: “o Brasil precisa de trabalho”. Outros gênios tinham a receita certa: a manifestação teria que ser feita no feriado. Assim, ninguém seria “prejudicado”.
Ora, a greve não é uma festa que se faz no feriado. Uma manifestação para que traga algum efeito tem que impactar. Se os professores paralisarem suas atividades da meia-noite até às 07h30min e, na hora certa, quando a sineta chamar, estiverem disponíveis para dar aulas, é certo que ninguém vai lembrar-se dos seus minguados salários e do desrespeito que os governantes têm pela educação.
Tenho certeza de que vivemos realidades paralelas. O trabalhador que só sabe trabalhar, que não tem tempo e nem voz para gritar sua indignação,  vive a sua. O empresário que só vê lucros vive a sua. O Lulista que só vê o Lula vive a sua. O fanático pelo Bolsonaro vive seu louco sonho. O sonho de um é o pesadelo de outro.
O indivíduo que só vê a Globo não vê manifestação democrática nem luta pelos direitos. Só vê baderna e destruição. E sente medo. Não sente medo do Temer e das quadrilhas que atuam em todos os poderes da nação.  Mas, tem medo de que algo mude. Tem medo de que o desconhecido chegue.
Belchior tinha medo. E Edna, sua mulher, mais ainda. Fugiam da fama, fugiam do povo, da mídia. Viviam exilados.  Perambulando sem destino. Belchior morreu. Já havia morrido outras vezes. Agora morreu de vez: deu no Jornal Nacional.


* Pequeno mapa do mundo - Belchior

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