20/03/2017

A Ética do Ladrão

Nos tempos românticos, escolas e igrejas não eram assaltadas. Os ladrões mantinham algum resquício de ética. Talvez resultado do apego emocional. Algum respeito à professorinha e, quem sabe, medo de alguma retaliação da divindade? Não importa. Merenda escolar, equipamentos usados para a educação e o ambiente sagrado eram isentos da ação danosa dos meliantes. Este tempo foi superado. Tanto que nem é mais notícia. Somente os jornais mais populares e as rádios locais noticiam estas ações. Escolas da periferia os grandes centros estão impedidas de manterem televisores, monitores, computadores, notebooks, projetores e mesmo estoque de comida. Tudo vira moeda no comércio de pedras de crack.
O problema hoje é maior. As notícias são mais escandalosas. Envolvem mais do que pedras. São montanhas e mais montanhas de dinheiro envolvido. Não se sabe de onde vem, mas sabe-se que logo logo a imprensa noticiará algo novo. Semana passada foi a carne, na outra o leite. A dúvida é: qual o escândalo da semana? É tanto escândalo que, se apertasse um pouco o cerco da fiscalização faltariam páginas nos jornais, tempo no noticiário da tevê e paciência para acompanhar tudo.
De tudo isso, firma-se a certeza de que não resta um setor de atividade em nosso país que não esconda algum tipo de irregularidade. Ou alguém tem plena certeza de que o processo de produção da medicação, que, em tese, deveria conduzir a alguma espécie de cura, segue rígidos padrões de qualidade? Que não há falcatruas envolvidas nesta produção? E as águas minerais que são vendidas a preço de ouro? E os alimentos industrializados? E o império das igrejas que vende o milagre da salvação das almas e investe pesado na compra de uma indústria midiática que alimenta o rebanho com seu proselitismo?
Sei lá. O mais correto hoje é desconfiar de tudo. Ou, para não ser tão radical, pelo menos não cravar a certeza em cima de processos que envolvam a busca da lucratividade. O sistema de controle é frágil, as leis são brandas e os lucros bastante significativos. No meio de tudo isso, a saúde do consumidor é mero detalhe. Nem entra na conta.

Houve um tempo em que até os ladrões tinham certa ética. Faz tempo.

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