14/03/2017

A Esperança

"A Esperança é o sonho do homem acordado". Aristóteles.

Comodamente sentado na frente de um computador, na repartição onde trabalha o indivíduo, gozando da bondade de um ar condicionado que transforma o calorão em um quase inverno, vocifera de vez em quando: “no passado não acontecia estas coisas”. Demonstra que gostaria isto sim, que uma ordem muito forte imperasse neste Brasil de Deus. A verdade é que sente saudade da ditadura. Acredita piamente que algumas estocadas de baioneta, somadas à liberdade de manifestação acabariam com esta bagunça generalizada que ocorre no país. Para evitar que passe batido, um de seus colegas argumenta que a pior democracia é melhor que a melhor das ditaduras. Mas ele não ouve. E nunca ouvirá. Está convencido. Os males do Senado, da Câmara, a roubalheira que impera em todos os níveis, a falta de pudor, a ineficiência das leis, está tudo errado neste pedaço de chão. E tudo é tão simples, bastava uma direção segura e armada, dura, inflexível, para que, num passe de mágica, estes problemas fossem superados.

Apesar de avanço tecnológico e científico, questões como a segurança e a estabilidade (mesmo que aparente) ainda são preocupações constantes. E, pensamentos como estes, saudosos por governos mais duros e menos tolerantes, não é tão incomum. As mudanças são assim mesmo. Mexem com as pessoas. E como mexem. Como estarão hoje os batedores de panela que sonhavam com um Brasil Novo?  Afinal, achavam que estavam do  lado certo e, no final, acabaram apoiando a volta do ranço da velharia direitista que se deleita em reduzir a comida no cocho e a acabar com a esperança do pobrerio em geral, mas, não poupa esforços para  aumentar o lucro dos patrões e o superávit do governo, o que lhes garante a estabilidade que é negada aos cidadãos comuns.
                Alguns dizem que o Brasil precisaria ser reinventado. Nada mais correto. Mas, de que forma? Foram tantas as tentativas frustradas e umas poucas e boas iniciativas que resultaram em algum sucesso. O grande problema hoje é a carência de propostas. Faltam líderes, os partidos estão em frangalhos e, de algum modo, há uma chocante falta de esperança. Lembro que, nos anos 70, enquanto o pau comia frouxo por aqui, muitos tinham a esperança de que Brizola voltaria do exílio, os militares voltariam para a caserna, de onde não deveriam ter saído, e, de algum modo mágico, o país se tornaria algo diferente, novo, onde o trabalhador tivesse algum espaço para crescer. Quem conhece um pouco sabe muito bem que não foi bem assim.
                A esperança já teve outros nomes: redemocratização, anistia, Diretas Já, Tancredo Neves, Lula lá e assim por diante. Hoje não há nada de novo no front. Por isso, talvez, ainda haja quem tenha saudades de um tempo em que alguma ordem imperava. Ao menos na aparência.  Vivenciamos hoje um caos. Mas, sairemos dele um dia. De algum modo a roda vai continuar rodando e este ciclo de desesperança vai acabar. E a esperança voltará. Mas, não será para sempre. Ela vai e volta, respeitando uma lei natural que determina que um ciclo deva terminar para outro iniciar.   
                 

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