29/11/2016

Vida e Morte

As palavras estão aí e precisam ser encontradas. Não cabe ao cronista escrever algo no estilo “não tenho palavras para explicar” ou “não encontrei as palavras”. A coluna do jornal precisa ser preenchida. Não há como deixar um espaço em branco. Tem que haver algo publicado ali. De preferência com letras, com palavras e com ideias que, de algum modo, façam sentido aos leitores. Então, é necessário, é indispensável, é um imperativo que se escarafunche  e que algo seja dito.
Explico: é terça-feira. Uma terça-feira diferente. O sol sai de vez em quando. Mas, nuvens insistentes cobrem boa parte do dia. Os sites, os jornais, a tevê, as rádios, as redes sociais. Todos. Todos estão conectados com a queda do avião da delegação da Chapecoense. Vidas se foram. Familiares são entrevistados insistentemente. As pessoas querem explicações. O que houve com o avião? Houve falha humana? O desastre poderia ser evitado? O clube poderia ter gasto mais algum recurso e conseguido uma aeronave melhor?
Perguntas e mais perguntas. As respostas, na verdade, nem são necessárias nestes momentos de dor, de sofrimento, de estranhamento. Não há como ficar alheio a tudo isso. Não há, também, como explicar assim com pressa, com rapidez, todo este processo que envolve a vida e a morte.
Desde os mais antigos pensadores, sabe-se que a vida física é uma face apenas da moeda. Tá certo que os materialistas não entendem assim. Acreditam que a vida se esgota totalmente quando o corpo, que sabemos tem natureza finita, deixa escapar a última de suas energias. Mas, isso é questão de análise, de convencimento e até de fé. De lógica, me diriam alguns outros.
É correto crer, no entanto, que vida e morte caminham juntas. Nossos olhos, no entanto, encantados com a existência física e com  as ilusões geradas pelas mentes brilhantes que montam os cenários pelos quais transitamos, não percebem que ambas se movimentam num proximidade impressionante. Já se disse, não  lembro bem quem, que o corpo começa a morrer quando nasce. Isto, porque, cada dia vivido é um dia a menos. Pensamento pessimista, é claro, que pode ser combatido facilmente pelo outro lado da moeda: cada dia vivido é um dia de busca, uma oportunidade para que o indivíduo escreva sua história.
Mas, o noticiário ainda é quente. E, nas redes sociais, um que outro lembra que Deus não evitou a tragédia. Reducionismo puro. O processo natural ocorre sem que vontades interrompam as regras. Há leis perfeitas que não são suspensas por conveniência deste ou daquele.
Paulo Paixão, multicampeão pelo Grêmio, pelo Inter e pela Seleção Brasileira, deu o depoimento mais tranquilo que li neste dia trágico  para o esporte mundial. Disse ele que não havia revolta contra Deus porque é grato por tudo o que lhe acontece. Comovente. Mais comovente, ainda, quando se sabe que é o segundo filho que ele perde em questão de alguns anos. Aí entra o componente da fé. Afinal, há de ser ter fé de que o plano natural se estabelece mesmo quando o homem luta em não aceitá-lo.  
                       

                        

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