21/10/2016

As Tribos

"Consta que cada dia é um novo dia.
O automático não existe mais."
Boa parte das pessoas acorda pela manhã e se prepara para um monótono dia. Todas as coisas são feitas de maneira repetitiva. Dia após dia, as mesmas ações. Despertou o relógio e começa a correria. A rotina começa aí e vai até a última ação. Correm pela consolidação da carreira profissional, pelo sucesso financeiro, pelo bem da família e por ene razões não tão claras assim.
Não é incomum que o indivíduo siga pela vida toda fazendo as mesmas coisas, da mesma forma na mesma ordem. Ligado o automático, vão seguindo por ruas, avenidas, repartições públicas, mercados sempre no mesmo ritmo. E o tempo vai passando e a vida vai seguindo. Os anos, os meses, os dias, as horas e os minutos vão passando porque passam sem pedir licença para ninguém.
Não é incomum que num final de vida, quando as forças já não são as mesmas, quando o vigor já se foi, a tecla do automático se rompa. E aí o indivíduo lança-se no desespero, pois nada sabe além de seguir o caminho já trilhado um dia. Improvisar é preciso.
Não é incomum, nos dias de hoje, que indivíduos aparentemente bem sucedidos, muitos com cargos invejáveis e um futuro promissor numa carreira bem construída numa multinacional sólida, em dado momento abandonem a correria bem programada e se lancem na busca de algo que lhes dê mais satisfação. Buscam bem-estar. Preferem descobrir as razões das suas angústias e explicações mais plausíveis sobre a existência. E o automático está no centro da discussão.
Trocar um salário astronômico por um sítio no meio do mato, onde se planta e se colhe a própria rúcula e o alface que se come ao meio dia são casos que se repetem pelo Brasil e pelo mundo. O nó apertado na garganta trocado por uma camiseta simplória sem grife. Um par de botas porque este é um item indispensável. Outros nem de botas precisam, pois se mudam para a praia. De preferência que não tenha badalação. Um calção ou uma bermuda, uma camiseta e um par de havaianas tornam-se o uniforme.  
Alguns ainda vão literalmente mais longe. Buscam nas trilhas nas montanhas ou nas florestas o contato com os seres que mais conhecemos pelas ralas aulas de folclore. E, na intimidade, se permitem conversar com elfos, gnomos e espíritos que cuidam do tempo, do vento, da água e da saúde da Terra. E encontram seres que já viveram por aqui há algum tempo ou mesmo que gerenciam estes complicados processos de administração do planeta desde o seu nascimento há muitos milhares de anos. Tornam-se hippies da nova era. Sem tempo a perder com guerras. Nem as das redes sociais. Dizem não aos debates acalorados, cheios de termos ofensivos, desrespeitosos. Desejam a paz e a harmonia.
Consta que cada dia é um novo dia. O automático não existe mais. E aí o olhar sobre as coisas muda. E começam a agradecer por coisas simples que estão aí e que passam ao largo dos olhares apressados. Gratidão pela lua, gratidão pelo sol, gratidão pela água, gratidão por este dia. Gratidão pela energia inesgotável que se lança pelo espaço sem taxa nem imposto. Gente esquisita essa, podem pensar alguns de nossos leitores, que agradece por coisas que ninguém dá muita importância. É fato. Cada um valoriza aquilo que alcança.    
E assim vão se formando tribos aqui e acolá. E que bom que a Terra é grande o suficiente para que as tribos convivam respeitando suas diferenças, sem a necessidade de que alguém queira impor alguma verdade imutável. 

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