29/05/2016

A Certeza

Timidamente sentado, o aluno da primeira série assiste com alguma angústia a inquirição da tabuada pela professora de matemática. Fulano: quanto é três vezes três; Cicrano, quanto é quatro vezes dois? A cada resposta errada a turma divertia-se. O nervosismo crescia enquanto os colegas da fila iam respondendo. No íntimo, torcia para que o sinal soasse e fosse poupado de responder a uma questão. Sabia tudo de tabuada, mas preferia não ser colocado à prova. Até que não teve jeito. Chegou a sua vez. Quanto é duas vezes dois? perguntou a professora. Quatro, respondeu na mosca. Tu tens certeza? Silêncio. Longo silêncio. Tu tens certeza? perguntou de novo a mestra. Cinco, professora! É cinco! Gargalhada geral.
 A certeza durou pouco. Bastou uma dúvida incutida pela professora e lá se foi a convicção. E o erro veio a cavalo. E a velha professora, matreira como ela só, mostrava certa satisfação em induzir aquelas alminhas indecisas a trilhar por caminhos repletos de armadilhas. E não há armadilha maior do que o sistema nervoso do indivíduo. O medo dispara o coração, as pernas se tornam fracas, os números se acavalam de tal forma que dois mais dois vira uma equação quase insolúvel. O menor dos problemas vira algo grandioso.
A mente prega peças. Se o medo for o companheiro principal do indivíduo todas as equações serão muros enormes, intransponíveis. Por outro lado, não houvesse medo e não estaríamos aqui. Nossos bravos antepassados teriam enfrentado todos os predadores de peito aberto e virado o lanche do dia. Alguns medrosos e espertos ficaram escondidos na caverna, enquanto maquinavam alguma solução criativa para não entregar de graça seus corpos às feras. E alguém criou uma lança e colocou uma tocha de fogo na ponta. E as feras sentiram medo e foram procurar o seu lanche em outra freguesia.
No guia que move o empreendedor consta que não há uma só solução para as coisas. O que é certo para um não necessariamente é certo para o outro. Empresas perderam bilhões ou foram à falência porque não acreditaram em ideias que pareciam incorretas. A Kodak não acreditou que um dia alguém deixasse de imprimir suas fotografias. Quase foi à bancarrota porque não percebeu que o mercado poderia mudar um dia. Seu julgamento estava equivocado. Os executivos tinham certeza absoluta que estavam no caminho certo. O tempo mostrou que não.
A certeza, aliás, é um serzinho bem relativo. Parece que está aqui, mas, por vezes, bem que pode não estar. Isto porque certo e errado são termos camaleônicos. Melhor não se apaixonar pelos julgamentos. Henry Ford, expert em fracasso e sucesso, disse certa vez que “se você acredita que pode, você está certo. Se acredita que não pode, você também está certo”.         

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