Timidamente sentado, o aluno da primeira série assiste com
alguma angústia a inquirição da tabuada pela professora de matemática. Fulano:
quanto é três vezes três; Cicrano, quanto é quatro vezes dois? A cada resposta
errada a turma divertia-se. O nervosismo crescia enquanto os colegas da fila
iam respondendo. No íntimo, torcia para que o sinal soasse e fosse poupado de
responder a uma questão. Sabia tudo de tabuada, mas preferia não ser colocado à
prova. Até que não teve jeito. Chegou a sua vez. Quanto é duas vezes dois?
perguntou a professora. Quatro, respondeu na mosca. Tu tens certeza? Silêncio.
Longo silêncio. Tu tens certeza? perguntou de novo a mestra. Cinco, professora!
É cinco! Gargalhada geral.
A
certeza durou pouco. Bastou uma dúvida incutida pela professora e lá se foi a
convicção. E o erro veio a cavalo. E a velha professora, matreira como ela só,
mostrava certa satisfação em induzir aquelas alminhas indecisas a trilhar por
caminhos repletos de armadilhas. E não há armadilha maior do que o sistema
nervoso do indivíduo. O medo dispara o coração, as pernas se tornam fracas, os
números se acavalam de tal forma que dois mais dois vira uma equação quase
insolúvel. O menor dos problemas vira algo grandioso.
A
mente prega peças. Se o medo for o companheiro principal do indivíduo todas as
equações serão muros enormes, intransponíveis. Por outro lado, não houvesse
medo e não estaríamos aqui. Nossos bravos antepassados teriam enfrentado todos
os predadores de peito aberto e virado o lanche do dia. Alguns medrosos e
espertos ficaram escondidos na caverna, enquanto maquinavam alguma solução
criativa para não entregar de graça seus corpos às feras. E alguém criou uma
lança e colocou uma tocha de fogo na ponta. E as feras sentiram medo e foram
procurar o seu lanche em outra freguesia.
No
guia que move o empreendedor consta que não há uma só solução para as coisas. O
que é certo para um não necessariamente é certo para o outro. Empresas perderam
bilhões ou foram à falência porque não acreditaram em ideias que pareciam
incorretas. A Kodak não acreditou que um dia alguém deixasse de imprimir suas
fotografias. Quase foi à bancarrota porque não percebeu que o mercado poderia
mudar um dia. Seu julgamento estava equivocado. Os executivos tinham certeza
absoluta que estavam no caminho certo. O tempo mostrou que não.
A
certeza, aliás, é um serzinho bem relativo. Parece que está aqui, mas, por
vezes, bem que pode não estar. Isto porque certo e errado são termos
camaleônicos. Melhor não se apaixonar pelos julgamentos. Henry Ford, expert em
fracasso e sucesso, disse certa vez que “se você acredita que pode, você está
certo. Se acredita que não pode, você também está certo”.
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