19/04/2016

A Impotência

Às vezes, reclamo e resmungo quando acesso as redes sociais. Aparece cada coisa que enche o indivíduo de vergonha. Cidadão de bem, que aparentemente cumpre com honestidade todos os compromissos do dia a dia, zeloso com a família, posta de vez em quando fotinhos carinhosas com a esposa e com as filhas. Aparentemente defende os valores mais sublimes e sagrados da existência humana. Mostra que quer um mundo feliz, que ama de paixão tudo o que o cerca. Subitamente, porém, assume a porção da desarmonia e aparece fazendo apologia de lideranças políticas francamente defensoras do trato violento, da intolerância e da tortura.
E isso tem sido a tônica nos dias de hoje. Porém, cheguei a acreditar que era um fenômeno localizado. Coisa de internet. De linguagem virtual. Chego à conclusão, depois de assistir ao espetáculo circense, que foi a sessão da Câmara Federal que depôs Dilma do Governo, de que o país é assim mesmo. A linguagem das rede sociais é a mesma em todos os lugares. Em alguns, como no Senado e nas cortes superiores, ainda resiste (pelo menos visualmente) algum respeito e alguma ordem.
Vacinado, no entanto, não descarto que lá em cima não seja outro o panorama que vige. Sou obrigado a pensar e imaginar que aqueles sérios senhores, no íntimo e relaxante momento do cafezinho, distantes dos olhos frios das câmeras da TV Senado e da TV Justiça, não  ajam como agiram os senhores deputados. Não tem como crer no contrário.
E não estou falando aqui em facções: em defensores deste ou daquele grupo. Governistas e opositores (que até uns dias atrás se confundiam no saque aos cofres da nação) parecem rumar para o mesmo poço. E, convenhamos, por mais otimista que seja o indivíduo, não há como prever coisa melhor num futuro próximo. As próximas gerações viverão este pesadelo. Este escárnio, este deboche vai continuar. É o espetáculo. É o show do momento. E o circo vai continuar animando o povaréu. E o espetáculo é grosseiro. Os palhaços não têm talento. Não carregam a graça, a ingenuidade e a leveza necessárias em suas travessuras. 
Ainda bem que os olhos de Alice não foram contaminados. Não há preocupação no seu mundo. A paz que carrega em seu rosto sereno é a paz que merecemos. Vinde a mim as criancinhas, disseram os mestres num passado não muito distante. Jesus e Buda tinham razões infinitas para dizer que devemos alimentar nossa visão como se crianças fôssemos. Como adultos, em muitos momentos, somos impotentes para continuar sonhando. Impotentes por hora. Até que o pesadelo passe. E passará. Um dia.   

                            

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