24/08/2015

A Isca

Um dos termos mais usados nos últimos tempos na mídia, na rodinha de café, na de chimarrão ou na mesa de bares, entre uma cerveja e outra, entre um petisco e outro, entre uma risada e outra, é corrupção. Há um forte apelo para condenar todos quantos corruptos forem encontrados no solo pátrio. Saudável, isso. Desejável, com certeza. Porém, como tantos termos que são usados com tanta insistência, a expressão vai se desgastando. No caso específico, podemos afirmar com a mais firme das convicções: todos sabem exatamente o que é corrupção. Mas, convenhamos a maioria não conhece a extensão que o termo carrega.
É indispensável que se veja (sem trocadilho) o que vem a ser a tal da corrupção.  E aí, como tudo o que há no mundo do conhecimento, há teorias e mais teorias, teses e mais teses.  Para Santo Agostinho, corrupção é ter o coração  (cor)  rompido (ruptus) e pervertido. Para o filósofo Emannuel Kant, a corrupção é própria da espécia humana. A tendência habitaria dentro de todos nós, aguardando o momento propício para mostrar suas garras. “Somos um lenho torto do qual não se podem tirar tábuas retas”, disse.
Certo é que a corrupção está na raiz da existência humana. Está na vontade de levar alguma vantagem indevida, na tendência do homem em conquistar algo que não mereça. Mas, está também na própria natureza. O corpo que morre se corrompe. Se deteriora. Os corpos dos faraós eram embebidos em soluções, atados sistematicamente e  colocados no centro de uma pirâmide para evitar que o corpo se corrompesse. Imaginavam que, em algum mundo, acordariam e levariam nova vida. Desejavam, isso sim, corromper a lei natural. Queriam vencer a morte.
Sendo mais específico e atual, o grande foco da corrupção nos dias de hoje nem é vencer a morte, pois ela é invencível. O que move o corrupto e o corruptor é o poder. O dinheiro desviado indevidamente é usado para manter o poder. O poder da corporação, o poder do empresário, o poder do político. Sabemos muito bem que dinheiro e poder estão muito próximos. Ainda mais no nosso sistema onde quem tem é. Quem não tem deseja ter e ser. E quem não tem e nem deseja está fora do jogo, está fora de moda e, portanto, não tem poder.
A própria mídia tão moralista para com os outros, acabou por morder a isca. Tanto barulho fizeram que se deram conta que entre seus pares (vide Operação Zelotes) há gente comprometida até a raiz do fio de cabelo. Então, calam. Pelo menos em relação ao seu quintal. Convenhamos, a mídia se comporta como qualquer outro. Como o sujeito comum. Muito embora pareça o último reduto da moral, basta um governo reduzir a verba publicitária  e os problemas começam a aparecer. O governante abriu o cofre e, como num passe de mágicas, maus governos viram ótimos, governantes insensíveis viram modelos e assim vai.
A propósito disso, o filólogo, filósofo, crítico, poeta e compositor alemão Friedrich Nietzche disse “todo o homem tem seu preço, diz a frase. Não é verdade. Mas, para cada homem existe uma isca que ele não consegue deixar de morder”.


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