17/12/2014

Ideias válidas

A fogueira foi o meio encontrado pela
 Inquisição para validar suas ideias,
 impondo suas "verdades"
Imaginemos que só há uma ideia válida. Que tudo o que se concebeu em termos de conhecimento até os dias atuais esteja submetido a uma única e derradeira verdade. A verdade absoluta, irretocável, inamovível e inatacável. Uma verdade só que explicaria de forma cristalina e permanente tudo o quanto há, tudo o quanto houve, tudo o quanto haverá.
Imaginemos que esta verdade seja concebida por algum filósofo. Escolhemos por acaso (ou não) Sócrates. Então Sócrates tem a verdade. E tudo o que se sucedeu depois dele está intolerantemente derrogado. Nada vale mais do que o pensamento de Sócrates. E fim.
É claro que o conhecimento adquirido pelos homens ao longo dos tempos é cumulativo. Antes de Sócrates tantos outros estabeleceram princípios válidos. E depois deles milhares de seres tornaram a vida mais complexa e cheia de opções.
De onde surgiu, então, esta intolerância religiosa que submete a humanidade aos pesadelos das ações terroristas? Que Deus é esse que está por trás destas facções que destroem a vida, que espalham sangue de meninos e meninas com o intuito de agradá-lo? Que obra macabra é esta que preparam estes homens? Que sentimentos são estes, tão brutais, que movem estes ensandecidos homens?
A religião tem dessas coisas. Os dogmas afastam o homem das verdades. E os dogmas não são concebidos por deuses, mas por homens que se sentem como tal. Que acreditam autorizados pelos deuses. É claro que a religião dogmática já submeteu a humanidade a desmandos tais que manchou de sangue boa parte da história. Que o digam os queimados nas fogueiras, os torturados de toda ordem, os perseguidos pela Santa Inquisição, punidos por pensarem de forma diversa do clero e do rei.
A religião tem destas coisas. O sentimento religioso não. Este é muito diferente daquele. As religiões que se fecham em torno de si, que estabelecem povos eleitos pela divindade, que excluem todos os demais porque não aderiram à grande ideia salvacionista, emprestam um malefício enorme à humanidade. Talvez até de boa fé (desculpem o trocadilho). Talvez entendam que estão corretos. Talvez entendam que estão seguindo única e exclusivamente a ordem ditatorial de seu deus. E, que o caminho prescrito, é esse. O Caminho Correto. O Único. A Verdade.
Daí nasce o fundamentalismo. Daí nasce este sentimento distorcido de que Deus é muito mais o corretivo e o executor das penas. É o Deus forte, cruel e humano. E este Deus é intolerante.
Imagine que só há uma ideia válida. Como seria pobre o mundo de hoje se uma única ideia fosse válida. Se só o racional mandasse, não haveria sensitivos. Se só valesse o material, para quê espiritualidade, mundo extrafísico e outras premissas. Se uma única ideia fosse válida não haveria saída. Ainda estaríamos nascendo com duas únicas possibilidades de futuro bem traçadas: o paraíso iluminado ou o fogo do inferno.
Sócrates, é certo, contribuiu para a humanidade. Mas também Jesus de Nazaré, Platão, Confúcio, Buda, Lao-Tsé, Lutero, Gandhi, Allan Kardec, Os Versos Védicos, Isaac Newton, os indígenas, os povos pagãos, os homens comuns de todas as épocas têm contribuído sempre e insistentemente para que o mundo seja melhor.
Acredito nisso. Nunca haverá uma única verdade que eliminará todas as outras. Fundamentalismo é o retrocesso. Fundamentalismo é o fim.

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