12/06/2014

A inexistência

A ideia é instigante, mesmo que possa servir para zombarias. Uma análise mais apurada, no entanto, permitirá que se admita como possível algo impensável num primeiro momento. Falo de uma das tantas teorias que existem por aí e que procuram explicar o funcionamento do mundo e o andamento das coisas por aqui. Talvez tenha lido em algum lugar quando procurava algo sobre a existência. Na minha cabeça ficou sendo a teoria da inexistência. Confesso que, apesar de consultar os meios existentes, não mais a encontrei. Apesar disso, a considero uma ideia interessante. Vale a pena perder alguns minutos para pensar sobre ela.
Afirmam alguns pensadores que nada do que vimos, que cremos como real existe objetivamente. Ou seja, tudo o que nossos olhos percebem, tudo o que nos cerca não passa de uma ilusão. Sendo assim, podemos considerar que vivemos num mundo virtual. Num mundo de faz-de-conta. Há inúmeras teorias que se debruçam sobre alguns dos aspectos possíveis, mas quero me fixar somente sobre um deles.
Mesmo que nossa percepção encontre dificuldade para deixar o mundo físico e se deslocar para os distantes mundos imateriais (nem tão distantes assim, como veremos), proponho um exercício simples, para fins de raciocínio. O ideal é fixar os olhos numa parede azul, branca ou de uma cor qualquer, sem janelas. A parede está colocada à nossa frente. Ela é a contenção. Encarando-a de frente, afasta nossa percepção de um mundo que sabemos existe lá fora. Nossos olhos, porém, não são capazes de ultrapassá-la. Para os nossos olhos não há mundo lá fora. O que existe de concreto (desculpem o trocadilho) é uma parede azul ou branca. Nada mais. É material puro que se esgota ali.
Ora, é bem razoável que neste exato momento, do outro lado da parede, um pequeno cão, faminto, sarnento, carente, silencioso em sua dor, esteja passando com seu andar lento e cansado. Ou, então, faz o mesmo percurso um vistoso cão, bem tratado, com uma bela coleira, pelo brilhante e escovado. Ele saiu de casa num descuido de seu dono. Está perdido, mas confiante. Seu dono pode estar preocupado. Colocou suas crianças no carro e saiu pelas ruas da cidade a chamá-lo. E enxergaram tantos cães parecidos. E se frustraram porque nenhum dos que foram vistos é verdadeiramente o cão que procuram. É possível, ainda, que nada disso esteja ocorrendo. E que somente o vento esteja batendo lentamente nos galhos das árvores, os pássaros estejam voando de um a outro galho e alguns pingos de chuva comecem a cair sem alarde. Tudo longe do nosso olhar. Tudo sonegado do nossos olhos.
Ou seja, a realidade objetiva, aquela apreendida pelo nosso olhar, pelo nosso toque, não é a única existente. O plano físico é apenas uma das possibilidades. Há outras tantas possíveis. Muitas delas nem mesmo ocorreram, mas podem ser vivenciadas através da articulação do pensamento, da mera ilusão ou do sonho. Algo como as realidades paralelas, um mundo conhecido apenas na ficção científica, mas possível.
Desconfio que a riqueza não está onde nossos olhos alcançam. As verdades mais profundas, as transcendentais, fogem à nossa percepção quando há necessidade de se ver para crer. Arrisco afirmar que o verdadeiro mundo nem é esse que vivemos. Nem é esse que os nossos olhos percebem. É o das sensações, dos sentimentos, das vibrações, do pensamento, das ideias e dos sonhos. É para onde o homem, vez por outra, no seu desligamento da vida física, viaja. É onde busca inspiração. É onde estão as fontes onde as almas dos poetas, dos escritores, dos músicos, dos artistas de toda ordem, dos criativos, dos cientistas, dos inventores bebem e matam suas sedes. É onde toda esta gente, que não se prende olhando para uma inflexível parede azul ou branca, vislumbra o futuro.

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