01/05/2014

A eternidade

Qual o maior desafio que nos aguarda? Para muitos, acometidos por enfermidades, talvez seja vencer o dia de hoje, avançar no dia seguinte, ganhando outros e outros dias melhores. Para outros tantos, conseguir aquele emprego sonhado há muito, projetado há tempos, mas que teima em não chegar, gerando sentimentos de angústias e de incertezas. Alguns poderão lançar seus sonhos lá para frente, quando poderão, enfim, ser felizes.
A verdade é que é da natureza humana esta expectativa pelo que vem pela frente. Quanto mais jovem, mais intensos são os sonhos, maiores os desafios. Felizmente, pois quanto mais novo o indivíduo maiores são as energias possíveis de serem canalizadas na busca da satisfação.O processo não é exclusivo dos homens. Entre os animais, mesmo os de grande porte, o desafio do dia seguinte é comum. Penso nisso após ver um documentário, destes que abordam aspectos curiosos da psicologia selvagem, que revelam a luta cruel dos animais em seu meio na conquista de territórios, de fêmeas e do respeito entre os seus semelhantes. É o projeto de vida dos conquistadores.

O velho leão, que reinou por dois ou três anos (uma verdadeira eternidade na difícil vida selvagem), para continuar sendo o dono do pedaço tem que estar sempre com as orelhas atentas, com seus sentidos em alerta. Alguém pode de maneira imperceptível estar acompanhando seus passos, analisando sua conduta e atacá-lo de surpresa, dificultando, assim, sua defesa. Sempre haverá alguém que quer o seu sangue, a sua submissão, o seu território e as suas fêmeas. Alguém sempre estará disposto a desposá-lo de seus bens, conquistados um dia pela força de sua mordida e pela destreza de seu corpo.
Se o rei, no entanto, superar o desafiante, seguirá mais algum tempo como supremo mandatário de seu quadrado, até que alguém movido pelo espírito da aventura o desafie novamente. Se a derrota for o resultado, caberá somente uma retirada silenciosa. Machucado, lambendo as feridas, seguirá em passos lentos e cansados o seu caminho para algum lugar onde possa descansar da luta. Enquanto se desloca, vai ouvindo ao fundo o rugido de superioridade de seu oponente, que mostra a todos que o cercam quem afinal manda ali. Nada restará a ele senão assumir a sua fraqueza. Se as feridas forem profundas, mortais, sua dignidade guiará seus lentos passos para que sua morte se dê longe dali, pois aquele território não é mais seu.
Entre nós, os humanos, no entanto, a luta não parece ser tão sangrenta assim. Porém, em muitos casos, mesmo que silenciosamente, ela é assim tão implacável quanto a briga das feras na selva. Pode apresentar, inclusive, o mesmo desfecho. No mundo corporativo, por exemplo, isto é mais comum do que se imagina. O rei de hoje é a meta a ser vencida. A eternidade dura pouco nestes tempos em que tudo anda com pressa, onde o novo é velho no minuto seguinte e a ideia vencedora começa a ser superada tão logo seja apresentada.
O ciclo de trabalho nestas empresas de primeira linha dura muito pouco. Alguns destes jovens gênios permanecem menos de um ano. É tempo suficiente para apresentarem meia dúzia de projetos que valem alguns bilhões de dólares. Depois são superados pela falta de produtividade ou se retiram na busca de novos desafios. Dia desses li que um executivo de uma dessas empresas que mudam o mundo através da informação, no lançamento de um programa de computador informou que o produto duraria par sempre. “Ele será atual pelo menos nos próximos 20 anos”. Ou seja, será “eterno” enquanto dure.

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