14/11/2013

Os desbravadores

Nossos antepassados  guiavam-se pela posição do sol, da lua e das estrelas. Os antigos usavam a primitiva bússola. O mundo todo foi explorado na base da observação e do conhecimento empírico. Em alguns casos, um vendaval que mudava a embarcação de rumo, um erro de cálculo ou a intuição de alguém, foram determinantes para uma descoberta de valor. Claro que, da mesma forma, muitos se aventuraram e não tiveram sucesso. Se embrenharam em florestas e por elas foram engolidos. Não retornaram para contar histórias de povos perdidos, de rios que mal cobriam pepitas de ouro, de monumentos dourados ou de civilizações desconhecidas.
Nossotros, como diriam os espanhóis, ao chegarmos aqui, nestes tempos que transcorrem, encontramos a Terra mapeada. Os rios, os mares, as cadeias de montanhas, os vales e todos os outros acidentes geográficos plenamente conhecidos, nominados e retratados em mapas detalhados. Com legendas coloridas e uma rosa dos ventos a indicar os pontos cardeais. Tudo construído a partir da impetuosidade, da curiosidade e da perspicácia dos pioneiros que, enfrentando a falta de conhecimento, se lançaram na missão de descobrir o que havia além do seu campo de visão.
Assim, sem que percebêssemos, herdamos de presente mapas rodoviários precisos que ganharam importância para uma viagem bem planejada. O motorista seguia sua missão de conduzir a família. Ao seu lado, o cônjuge mantendo no colo um mapa que ia desdobrando conforme o carro avançava na rodovia. No banco de trás, duas ou três crianças impacientes perguntando de minuto a minutos se ainda está longe o destino. As meninas ansiando por um posto limpinho que tivesse uma banheiro em ótimas condições e uma lancheria de qualidade para um café, uma Pepsi e um pastel.
Nas últimas décadas os hábitos vão sendo modificados. Os mapas saíram do papel e se tornaram virtuais. Estão nos celulares e nos painéis dos carros. Ganharam voz no GPS. Basta programar o roteiro que o satélite vai guiando o motorista. Seguir à direita, seguir à esquerda, cruzamento a tantos metros. Basta confiar e pé no fundo que o tempo urge.
Pois bem, nem sempre funciona exatamente assim. Um amigo meu saiu de casa para uma viagem aqui dentro do Estado. Saiu com previdente folga. Acompanhado do GPS e de um amigo, foi seguindo as indicações, com justificada segurança. Andou pela estrada asfaltada até o seu final. Depois de algumas horas de navegação, se viu numa estrada vicinal cercado de lavouras de milho. O pó tomando conta do espaço. A tarde já estava findando. A noite se aproximava. Nenhuma casa, nenhuma pessoa. Só o GPS ali apontando direções e seu auxiliar calado.
Como era de se esperar, em dado momento chegou à conclusão de que alguma coisa estava errada. Pensando um pouquinho mais chegou mesmo à conclusão de que estava irremediavelmente perdido em algum lugar muito distante do seu destino.
Seguindo o instinto, tentou retornar sobre seus próprios passos. Na beira da rodovia encontrou uma casa onde foi informado de que cometera um erro, um pequeno engano de cento e poucos quilômetros que, no final, entre idas e vindas, resultaria algo em torno de três horas de deslocamento. O compromisso agendado para a noite tinha ido para o espaço. Não havia sinal de celular pelas bandas. O negócio era programar novamente o GPS e seguir viagem. Desta vez, porém, cuidando para não trocar seguir à esquerda por seguir à direita. Sabia que um pequeno engano, às vezes, pode determinar uma enorme diferença no final.

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