30/10/2013

Café filosófico

Deu no jornal: o hábito de tomar um cafezinho influencia decisivamente na tomada de decisão. Um bom número de pessoas muda de posicionamento após a ingestão de um simplório café. Explicam os estudiosos que o apreciado líquido tem o poder de tornar as pessoas mais maleáveis, podendo, assim, analisar com mais vagar as hipóteses e, por consequência, mudar um posicionamento anterior. Talvez seja por isso que o café seja tão respeitado e consumido entre os nossos políticos.
Intuitivamente, é claro, todos bem sabem disso. È dispensável até a  realização de  uma pesquisa científica. No mundo corporativo é muito comum o investimento no café. Nas empresas, independentemente do seu porte, é o momento em que o trabalhador deixa seu posto, se afasta um pouco de suas tarefas e dá uma relaxada. Sem, com isso, causar prejuízo aos cofres do patrão. O indivíduo, depois deste pequeno entretenimento, volta com as pilhas carregadas, trabalhando com mais disposição e gerando maiores lucros para a chefia. Em ambientes mais descolados é bem normal que a ala de cima também saia de seu casulo, compartilhando deste momento com a peonada. É hora de se entregar ao prazer da conversa jogada fora, da piadinha rápida ou daquele assunto corriqueiro que não cabe no horário do expediente. Tudo isso sem culpa.
Muito embora as pesquisas não indiquem, podemos afirmar peremptoriamente sem medo de críticas ou de cometer algum erro: não basta um café; tem que ser um bom café. De outra forma e a magia não se completa. Há algumas bem marcadas condições para que o cafezinho cumpra seu intento. Café requentado, por exemplo, é gol contra. O cheiro, a textura, o gosto, tudo conspira contra um café que já foi gostoso um dia.  Frio e fraco também não servem. Afastam os amigos, esfriam as possibilidades de um romance, terminam com qualquer chance de uma promoção no trabalho ou de um aumento salarial. Ou seja, café tem que ser café. Redundante e definitivo. Não pode ser excessivamente quente, eis que a temperatura da água queima o pó; nem morno, isto porque a água fora de sua temperatura ideal não conseguirá extrair os óleos que dão o sabor divino ao café.  Então, não tem solução, o café tem que ser servido no ponto.
Se tem lugar onde o café é apreciado é entre os sábios de toda a ordem. Futebol, política, economia, comportamento. Tudo se resolve se o café for bom. Tenho alguns conhecidos que entendem que o melhor café é aquele que é pago pelo outro. Resolvem os problemas do Brasil, do Grêmio e do Inter e os do Obama também em 10 minutos. Porém, não pode faltar o café na mesa. Se o produto rarear, escasseiam-se as ideias. 
O café é mesmo um achado, inclusive no mundo da filosofia. Sócrates, Platão e Aristóteles não morrerão jamais se o costume do cafezinho continuar entre nós. Desde que, claro, resistam dois ou mais indivíduos na face da Terra gastando seu tempo analisando as vicissitudes da vida. O café é o combustível ideal para alongar e aprofundar as conversas mais densas. Clareia as ideais. Mês o que um dos debatedores, do alto de sua sapiência, decrete: “sou um pensador autônomo!”. Sempre haverá a possibilidade de que, na primeira pausa, depois de mais um gole de café, o mesmo indivíduo olhe para seus comparsas e complete em tom de voz mais baixo: “olha só! que pretensão a minha. Não há ninguém que seja autônomo assim. Bobagem, bobagem, esqueça o que disse!”
E vai mais um cafezinho aí, que a conversa tá boa?

Outras coisas sobre o café:

A cevada e o café
Hora do cafezinho
Mensagem oculta
Guerra religiosa e a campanha eleitoral

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