14/06/2012

Encontros e despedidas

Solaninho  (foto-Solano Reis)

Ele chegou bem de mansinho. Sem fazer muito alarde foi conquistando um espaço entre nós. Discreto, certamente se assustou quando foi recepcionado por um sem número de máquinas e celulares que tomaram conta da maternidade. Todo mundo ali, como uma torcida em dia de clássico.  Olhos vidrados acompanhando cada cena, captando imagens, vibrando, delirando com um chorinho, com um aperto dos olhos, com uma careta. Levou sua pequena mão à boca. Ficou longo tempo com a mão no queixo, parecia um pensador buscando uma solução a um problema intrincado. Problema, que nada, o rapaz ainda desconhece o que seja isso. Seu mundo é o do descanso, é o da introspecção. Dorme o sono dos justos, inatacável, irremovível. 
O Solaninho, assim chamado por todos os familiares, chegou há pouco mais de uma semana. Filho do Marcelo e da Camila. É meu primeiro neto. Recebeu meu nome de presente, causando certo constrangimento. Não para mim é claro. A Camila, no entanto, já tem até discurso pronto. Suas conhecidas e amigas não conseguem disfarçar a surpresa quando perguntam o nome da criazinha.  Depois de explicar que o nome é uma homenagem ao avô ouve, invariavelmente, um “é um nome diferente, né!?”.
Confesso que na infância e adolescência me incomodava um pouco o nome que recebi. Solano parecia um nome que não me pertencia. Quando alguém me chamava tinha a nítida impressão de que estavam falando com outra pessoa. Os meus próprios irmãos não me chamavam pelo nome, o que reforçava ainda mais a tese do distanciamento. Nem meu pai, o autor intelectual da graça, era capaz de pronunciá-lo. Preferia usar os apelidos familiares. Tal qual uma das leis de Murphy, o que está mal pode ficar ainda pior. Pois não é que foi morar na vizinhança uma menina. E o  nome, para meu desespero infantil, era Solane. Era uma gozação só. E, o que piorava ainda mais a situação, a menina era uma praguinha. 
O tempo passa e nos adequamos aos nomes. E vamos ficando com a cara do próprio. Talvez o Solaninho no início até estranhe um pouco. A Camila ao menos terá em quem colocar a culpa: “a escolha foi do teu pai, reclama para ele!”, dirá um dia. Depois recorrerá aos sites de significados de nomes e verá que Solano é de origem latina e explicará que ele é “o Vento do Levante”.  Levante é uma área no Oriente Médio. Se quiser poderá fazer alguma alusão ao Sol numa tapeação aceitável para evitar qualquer revolta.
A família está curtindo este novo serzinho. Calmo como ele só. Eu e a minha esposa, Marta, vamos nos acostumando com a nova situação. Vez por outra, no comércio, na rua, no trabalho, algum gaiato grita de longe: “e ao vovô!”. Surpreso, ainda olho para os lados para ver com quem estão falando. Invariavelmente estão se dirigindo a mim. Com o tempo a gente se acostuma!
Ainda vibrando com o nascimento do Solano Freitas Reis, o Solaninho, fomos surpreendidos com a partida do nosso querido Ademir Brum, colega colunista do nosso Jornal Bons Ventos. Dono de texto agradável, leve sem ser superficial, engraçado, bem humorado sem ser nunca escorregar para o desrespeito, Brum sempre foi uma referência para todos nós. Saiu de cena de surpresa. Deixa saudades e o sentimento de que ainda teria muito que nos contar. Talvez Milton Nascimento, em Encontros e Despedidas, seja quem melhor defina estas idas e vindas da nossa existência: “Todos os dias é um vai-e-vem. A vida se repete na estação. Tem gente que chega prá ficar. Tem gente que vai... Prá nunca mais...”.  É a vida!

Saiba Mais:
Encontros e Despedidas - Letra da música
Significado de nomes
Leis de Murphy

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