01/03/2012

Memória vazia

(arte sobre foto)
O excesso de informações que a web fornece não está contribuindo para tornar o homem mais inteligente. Pelo contrário. As ferramentas de busca e as redes sociais disseminam a cultura do rápido e rasteiro. Com o tempo, nosso cérebro, acostumado à vadiagem que a muleta da internet fornece, vai entrar em processo de atrofia. Nossa memória ficará murcha, vazia. Nascerá daí um homem com alguma dificuldade de pensar coisas complexas, especialmente quando não estiver conectado com o Google.
O quadro pessimista, caótico, foi pintado pelo escritor Nicholas Carr na sua obra The Shallows: What the internet is doing to our brains (A Geração Superficial: O que a internet está fazendo com o nosso cérebro). Conforme ele, o homem é conivente com a redução de sua memória quando escolhe ser superficial. O fenômeno de atrofia do cérebro é um caminho previsível. Com o tempo o indivíduo vai reduzindo a densidade das informações que recebe, vai navegando em água rasas e, quando vê, desaprendeu, emburreceu.
A questão, na realidade é um contra-censo. A navegação na internet foi agregada à nossa cultura como forma de facilitar as coisas. Jamais se imaginou que poderia daí nascer algum mal, algo perverso que atentasse contra o seu próprio criador. Claro que a máquina em si, o sistema em si, não é maléfico. Maléfico é o uso que se faz. É o mesmo que ocorreu com o avião, por exemplo.
Alberto Santos Dumont caiu em depressão ao ver o resultado de seu esforço sendo usado como arma para destruição em massa. Toda a sua luta, seu empenho e sua expectativa por muitos anos de estudos, de experiências, de investimentos para levar aos céus uma aeronave caíram por terra quando o paulista constatou que seu invento havia se transformado em uma poderosa estratégia de eliminação da vida. O fato, segundo consta, foi decisivo em seu suicídio.
No caso atual, porém, é muito provável que não sejam registrados suicídios ou depressões entre os responsáveis pelo desenvolvimento de ferramentas alienantes. Até porque as estratégias não estão criadas com o intuito de prejudicar mas sim de facilitar a vida das pessoas. Estas, no entanto, é que estão se enredando nas teias de um mundinho particular que criaram.
Algumas iniciativas interessantes estão sendo propostas. Uma delas, por demais criativa, propõe que os amigos se desnudem de suas tralhas tecnológicas quando se encontram em um bar ou restaurante. Aquele que não suportar a nudez tecnológica e acessar qualquer aparelho durante o encontro herda a conta de todo o grupo.
Qual é a saída, então? O próprio escritor Nicholas Carr dá algumas dicas interessantes para combater esta cultura da superficialidade: ler mais livros impressos, investir nos pensamentos contemplativos, reflexivos e no armazenamento de memórias. É simples, não é?! Tão fácil como acessar o Google!


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