11/11/2010

Na condicional

Leonel acordou com uma ideia fixa. O que teria ocorrido se, ao invés de investir suas tardes no futebol, na pelada com os amiguinhos, tivesse estudado um pouco mais? Viajou por um milhão de possibilidades. Talvez tivesse se destacado em Física. Ao invés do minguado salário que agora recebia, talvez agora fosse um conferencista, um funcionário do alto escalão da NASA, alguém assim importante, quem sabe!
Ele gostou do exercício e tomou por esporte a busca de soluções para os problemas de sua vivência sempre a partir da análise criteriosa do intrincado caminho de suas escolhas. Mesmo aquelas que deram certo, como o casamento com Margarida, que o fizera feliz dando uma boa família. Mesmo aí a escolha poderia ter sido outra, concluiu. Afinal, na adolescência ostentava um bom número de possibilidades. A timidez exagerada bem que atrapalhou. Quantas marias, odetes, bernadetes, simones ficaram pelo caminho. A vergonha era tanta que nem um sorriso conseguia expor. Sem sorriso não há Maria, nem Simone que se encante.
No bailinho, na reúna, na discoteca, Leonel fazia alguns quilômetros ao redor da pista. Na música lenta não chegava ou, quando pensava em chegar em alguém, em tirar alguém para dançar, demorava e  um outro qualquer se atravessava abortando o seu plano. Quem sabe ali, ao som de KC and the Sunshine Band estrilando um Please dont  go, alguma coisa acontecesse.
Não é só Leonel que vive e revive sua memória. A tentativa de montar uma história diferente aqui e ali por certo faz parte da vida de muitos. Calcular prejuízos que tivemos por esta ou aquela ação, pensar sobre o que se fez e o que se deixou de fazer é um exercício e tanto. Na medida certa é extremamente salutar. 
A Revista Superinteressante sempre propõe este tipo de análise. O que seria do mundo se Hitler tivesse prosperado? E se o Brasil tivesse vencido a Copa de 50? E se Pelé não existisse? E se Maradona fosse brasileiro? E se Renato Portaluppi tivesse chegado três ou quatro rodadas antes? E se Roberto Carlos tivesse nascido nos EUA? E se Lula não fosse metalúrgico e nem sindicalista? E se os militares não largassem o osso e a ditadura continuasse? E se a inflação continuasse a 80% ao mês como nos tempos do Sarney? Chega, Leonel! Deus nos livre, algumas destas situações não merecemos nem em pensamento!
Certo é que a vida é uma sucessão de opções. As nossas escolhas são feitas dia a dia, sem que tenhamos a percepção disso e sem que notemos que estamos escolhendo este ou aquele resultado. E a todo instante estamos plantando sementinhas que resultarão num futuro incerto, numa aposentadoria mais aconchegante, numa união que não deu certo ou num futuro venturoso, pleno e gratificante. O desfecho da história de cada um, no entanto, não se dá por acaso. Há uma conjugação de trabalho, suor, dedicação, investimento, inspiração, mérito e tantas outras coisas imponderáveis.
O exercício é válido mais como lazer do que qualquer outra coisa. Se for levado muito a sério vira doença mental, algo tipo Transtorno Obsessivo ou coisa que o valha! É bom parar por aqui. Afinal, e se eu tivesse escrito outra coisa, hein??

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