04/08/2010

Pais e filhos

Nos primórdios não existia uma família. O homem vivia em bandos. Era uma massa de gente, identificada pelo instinto, que se movia para lá e para cá, fugindo de feras, buscando permanentemente locais com abundância de alimentação, água e temperaturas mais amenas. Permaneciam juntos por necessidade. Era mais fácil vencer as feras em grupo. Talvez tenha surgido daí a expressão a união faz a força. 
Um pouco mais polido, milhares de anos depois, os grupos foram se tornando menores. Possivelmente as feras já haviam sido dominadas e o clima de excursão pode ter perdido a graça. Outra opção pode ser a intuição de algum incipiente gênio da época: grupos menores, menores necessidades, menos trabalho, mais lazer. Sei lá! Quem sabe não foi aí que surgiram as primeiras regras da economia doméstica.
O pai, ainda naquela época, era o cara da família. Impunha-se pela força física. Ele determinava tudo. Mandava e desmandava. Os filhos e a mulher (ou mulheres) eram apêndices, não tinham vida própria, marchavam atrás do desbravador. O ritmo da marcha era ditado por ele, o pai. Até a religião era masculina. O culto familiar era dedicado sempre aos antepassados do pai. Tanto que o chefe da família era chamado de Senhor, em hebraico Adonai, que passou a ser utilizado depois para invocar a divindade. Não havia choro nem ranger de dentes, a mulher não tinha vez. 
Segundo entendidos foi na Babilônia, há mais de quatro mil anos, que alguém se lembrou de homenagear de maneira mais criativa a figura do pai.  Fontes não muito confiáveis indicam que um menino, chamado Elmesu Moldou, talhou em pedra aquilo que muito tempo depois se convencionou chamar de cartão. Com grande dificuldade, imprimiu na pedra desejos de sorte, saúde e vida longa. Baita filho esse Moldou, hein!?
O Dia dos Pais é mais pungente nos países latinos que são os mais apegados à família. Entre ingleses, alemães, norte-americanos e nórdicos o dia não tem significado nenhum. Até por que  o abraço, a proximidade corporal,  são coisas não muito apreciadas por eles.
Nos tempos modernos, conta-se que uma jovem americana, Sonora Louise, depois de testemunhar o trabalho de seu pai, John Dodd, um veterano de guerra, viúvo, para cuidar de seus seis filhos, o homenageou com uma festa e com uma rosa vermelha. O costume se espalhou pelo país e o presidente Richard Nixon, algumas décadas depois, instituiu o Dia dos Pais.
A necessidade de troca de presentes é uma coisa recente. Embalada pela necessidade de mexer com os estoques, a indústria, com o prestimoso serviço do departamento de marketing, fomenta a obrigatoriedade da entrega do presente ao pai. Presente este que, às vezes, chega de maneira tímida, gélida, desprovida daquilo que todo mundo gosta, de um abraço afetuoso. Neste domingo, deixe a vergonha de lado e dê um abraço no velho. Ele vai gostar!



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