11/07/2010

Sonhos e pesadelos de um herói

Sonhamos ser heróis. É um sentimento de menino. O mundo precisando de nossos talentos, nos chamando, pedindo socorro e nós, pelo bem geral, agindo com energia. Aplausos, agradecimentos. “O que seria de nós se nosso herói não estivesse nos cuidando!”.
Heróis de capa e espada, de artifícios mil, dotados de força, de superforça capaz de congelar o tempo, de modificar o passado, de devolver aos justos o que lhes cabe neste latifúndio, de encarcerar o mau.
Os meninos podem sonhar. Hoje heróis, amanhã homens comuns. O herói fica escondido, esperando a hora propícia para entrar em ação. Muitos não encontrarão uma só oportunidade em toda a existência.
Passado o choque da desclassificação, que parecia impossível no intervalo do jogo contra a Holanda, vejo que o treinador Dunga tenha acreditado no sonho do menino. Foi chamado em meio a um tumulto, a um caos. Ninguém queria jogar na seleção. Os clubes europeus mandavam e desmandavam, não respeitando as convocações. Jogadores simulavam lesões para não se integrarem ao elenco. Era uma tarefa para o Super Dunga.

Apoiado pela cúpula da CBF acreditou que sem capa, sem espada, como um simples mortal, desprovido de algum poder oculto, juntaria um exército de seguidores e desafiaria o mundo e, no final, o dobraria, devolvendo aos justos aquilo que lhes pertence. Na sua missão pisou nos calcanhares de uns, empurrou alguns intrometidos, desafiou outros poderosos. Se já não era muito simpático, semeou alguns inimigos ocultos e outros declarados.
No início parecia que tudo ia se encaixando. Os adversários foram sendo eliminados um a um. Com dificuldade, com sofrimento, com muito suor. Os fanfarrões foram silenciando. Os declarados tornaram-se ocultos e estes assumiram o silêncio sepulcral. Ficaram à espreita, esperando os movimentos seguintes. Nosso herói, tomado da certeza do sucesso, aumentou o tom. Gastou até parte do seu tempo a provocar. Gerou mais alguns desafetos. Porém, tinha certeza do triunfo.
Fenônemo parecido ocorreu com os hermanos. Entre eles, Maradona fez pose de herói, agiu como herói, parecia que seria o herói. O que se viu, porém, foi que os heróis morreram. Apostaram em suas estratégias, em seus carismas, em seus históricos de suplantar dificuldades. Para qualquer deles a vitória seria uma resposta. Agora o que se ouve são as vozes daqueles que o combatiam.
É triste ver um herói que fracassa. É triste ver um menino que se machuca quando sonha voar.
A realidade é que não merecemos tanto quanto achamos. Aquele troféu não está permanentemente a nosso dispor. Há outros no planeta com talento suficiente e com poderes para, mesmo que temporariamente, alcançar a glória. É o jogo!
Chegamos todos quase lá. Brasileiros e argentinos, culturalmente tão diferentes, mas com sonhos tão parecidos, morremos das mesmas causas e nas mesmas circunstâncias. Tal qual o bandido dos seriados dos nossos heróis da infância, sonhamos sempre em conquistar o mundo. Não foi desta vez. Quem sabe no próximo episódio!

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