13/06/2010

O cavalo do padeiro

Não faz muito tempo, em muitas cidades havia o costume da entrega do pão de cada dia ser feita por uma carroça. O dito veículo, tracionado por um cavalo, transitava pelas ruas e parava de armazém em armazém, de venda em venda, de bolicho em bolicho. Na frente do estabelecimento o entregador deixava uma cesta de vime contendo os pães que seriam vendidos pelo comerciante durante o dia.
O trabalho era estafante. A entrega ocorria antes de o sol nascer. Assim, o entregador e o cavalo se mexiam cedinho. Como ninguém é de ferro, no fim da jornada ambos encontravam-se cansados. Nas últimas entregas, enquanto o animal troteava, o entregador cochilava. Quando a carroça parava, o entregador pulava para deixar a carga de pães. O cavalo, por sua vez, aproveitava estes breves minutos para dar uma cochilada. Dizem que, ainda dormindo, iniciava uma nova marcha.
Por vezes somos como o cavalo do padeiro. Acostumados com o trecho percorrido no dia a dia, anestesiados pelo tédio, pelo automatismo, seguimos agindo no instinto. Talvez seja isto que estamos fazendo com o meio que nos cerca.
Mas, nem sempre foi assim, Lá no início, quando ainda tínhamos certo temor, um respeito reverencial para com as forças da natureza, quando o trecho ainda era desconhecido, mantínhamos os olhos bem abertos, temerosos de algum tropeço. Tão logo decoramos o trajeto, dominamos os mistérios, vencemos os temores, nos sentimos liberados para abusar da sorte.

Os recursos naturais até agora nos pareciam inesgotáveis. Durante séculos assim pensamos. Seguimos a trilha sem dar ouvidos aos alertas de que a Terra não terá condições de resistir à degradação causada pelos nossos impulsos de exploradores. Submetida à nossa vontade, ela já mostra sinais de cansaço.
No início eram só os lunáticos, os seres incompreendidos que lançavam alertas sobre esta questão. Pareciam bobos pregando desastres, catástrofes e coisas deste estilo. A luta entre o lucro momentâneo e a preservação foi intensa. No início, entendia-se que a preservação era dispensável, que a natureza tinha capacidade de regeneração inesgotável, que os alertas eram precipitados e que havia muito tempo pela frente até o desastre. Hoje, porém, até o mais ferrenho capitalista sabe que a exploração dos recursos naturais deve ser racional e que deve ser acompanhada de um programa de compensações.
Entre nós, consumidores finais ainda impera o descuido. Um saco plástico a mais no ambiente é pouca coisa. Um papel de bala, uma embalagem qualquer jogada ao vento vai, naturalmente, encontrar o seu lugar. Que nada! Somos responsáveis pelo que consumidos e pelo que descartamos Nem a anestesia do dia a dia, nem a falta de estímulo, nem o desconhecimento das leis naturais justificam as nossas atitudes impensadas em relação ao meio ambiente.
Neste dia 05 de junho, é o Dia Mundial do Meio Ambiente. Cuidar do meio em que vivemos não é só pensar em árvores, rios, recursos naturais. É também pensar nos seres humanos, no destino de nossas crianças e adolescentes. É pensar na saúde dos velhos e dos jovens, no bem-estar de todos os homens e mulheres, mesmo daqueles que seguem cansados por estas estradas como o extinto cavalo do padeiro.

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