11/05/2010

A missão da paternidade

A função da paternidade mudou. Aliás, como tudo na vida. O papel de um pai nos tempos antigos era um. Hoje, com a alteração dos costumes modificaram-se também as exigências. Num passado distante, cabia ao homem a função de alimentar o bando. Era ele quem saia a campo com sua lança, procurando abater alguma fera para servir de banquete aos seus pares. A mulher das cavernas permanecia sempre ao redor da casa, protegendo a filharada. As funções de sobrevivência foram de fundamental importância para a definição dos conceitos de masculinidade, feminilidade, paternidade e maternidade. O homem, o chefe do clã, o provedor, o que sai de casa para abater a presa, usando de sua audácia e de sua força; a mulher, por sua vez, espera pela volta do seu homem, cuida da prole.
Entre os romanos os pais eram os responsáveis pelo provimento da família, pela religião e pela manutenção da ordem. O pai era um soberano. A família tinha o dever de obediência incontestável. Amor e amizade eram conceitos desconhecidos. Na relação entre o pai e o filho havia somente obediência e respeito. O filho homem, o primogênito, era privilegiado, sendo o herdeiro de todo o patrimônio e responsável pela sequência do ramo familiar. As mulheres deixavam a família sanguínea para serem agregadas à família do marido. Não tinham direito à herança paterna.

Historicamente, portanto, o pai casca grossa encontra justifica para não se envolver emocionalmente com a cria. Daí cria dificuldades para desenvolver trabalhos como troca de fraldas, fazer um chazinho, uma simplória mamadeira ou, ainda, dar leves tapinhas nas costas para arrotar e outras atitudes tidas como francamente femininas. O panorama hoje é totalmente diferente. Em muitos casos o melhor pai é a mãe e a melhor mãe é o pai. E apesar disso continuam, mesmo diante da alternância de papéis, mantendo a sua masculinidade ou feminilidade.
Não havia ainda me apercebido, mas estas mudanças, pelo menos para nós brasileiros, se iniciaram com uma sacada meramente comercial. Até o fim dos anos 70 pai era pai e pronto. Na palavra pai havia toda uma conotação definitiva. Mas o publicitário Duda Mendonça propôs uma alteração expressiva na função paterna: não basta ser pai, tem que participar.
O slogan da publicidade do Gelol foi tão marcante, tão significativo que parece referendado em tese acadêmica, com o surgimento da figura do pai participativo. Segundo os estudos na área da psicologia de autoria de Christina Sutter e Júlia S. N. F. Bucher-Maluschke, em artigo publicado na revista eletrônica da PUC/RS, o homem passa por um período de transição, deixando para trás modelos antigos e assumindo novas demandas e posicionamentos. Revelam uma alteração no papel do homem, que deixa de lado a imagem de macho e começa a se interessar pela busca de uma forma de vida que permita uma maior integração com os filhos e com os seus cuidados diários. É um homem que não se nega a cuidar dos filhos, a fazer tarefas domésticas e, ainda, conjugar verbos tão ausentes como amar, compartilhar e entender.
A mudança, porém, não vai atingir a todos. Como diante de um dilema cada um reage de uma maneira, levará tempo ainda para que a figura do pai casca grossa se aposente. No que me toca, há muito tempo sepultei minha porção casca grossa. Reconheço, porém, que disfarçadamente, por vezes, este indivíduo teima em querer sair da sombra. Aí, bom, aí é ser vigilante e, usando da força de nosso passado de homem das cavernas, empurrá-lo novamente para o lugar que merece. Para fora da nossa história!

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